Criminosos e narcotraficantes continuam a disseminar caos e violência pelo
terceiro dia consecutivo no
Equador. Diante dessa onda de violência, os equatorianos buscam ajustar suas rotinas
da melhor maneira possível: aulas migraram para o formato online, o comércio
tem encerrado mais cedo, e apenas serviços de emergência permanecem
disponíveis nos hospitais. As ruas e os transportes públicos encontram-se
desertos, enquanto os poucos que se aventuram a sair o fazem com pressa. Em
meio a todas essas adaptações, o medo persiste.
Soldados nas ruas de Quito, capital do Equador — Foto: RODRIGO BUENDIA |
“Existe medo, é necessário ser cauteloso, olhar para um lado, olhar para o
outro, decidir se pego ou não esse ônibus, o que pode acontecer,” revelou uma
mulher de 68 anos, preferindo manter sua identidade em segredo, ao sair
apreensiva para trabalhar em um escritório na capital.
Desde a fuga de Fito, líder da maior facção criminosa do país, eventos como
sequestros de policiais e ataques a jornalistas têm se desenrolado. Balanços
preliminares divulgados pelas autoridades indicam pelo menos dez mortos e
dezenas de presos em meio à escalada da violência. Na segunda-feira, o
presidente Daniel Noboa decretou estado de exceção, seguido, um dia depois,
pela declaração do estado de Conflito Armado Interno em todo o território
nacional.
Em diversas cidades, estabelecimentos comerciais encerram suas atividades mais
cedo, e as ruas ficam repletas de pessoas apressadas retornando para casa. Em
Quito, soldados patrulham as ruas desertas em torno da sede presidencial,
enquanto o parque La Carolina, o maior da cidade, permanece vazio sem os
habituais praticantes de esportes.
A Embaixada da China e o consulado em Guayaquil anunciaram a suspensão
temporária de seus atendimentos ao público, sem indicar a data de retorno. Os
ônibus, inicialmente suspensos na terça-feira, voltaram a circular na
quarta-feira às 5h30, mas o metrô, mesmo em operação, apresenta bancos vazios,
substituindo a lotação costumeira no horário de pico.
Poucos carros circulam nas avenidas da capital e em Guayaquil, onde o ataque à
sede da TC Televisión na terça-feira aumentou o pânico, levando os moradores a
buscar refúgio em suas casas. Homens armados invadiram o estúdio de TV,
fazendo reféns e disparando contra trabalhadores, embora sem vítimas fatais.
A fuga de Fito, conhecido como José Adolfo Macías Villamar, chefe do Los
Choneros, desencadeou o terror. Detido desde 2011, ele escapou antes de uma
revista na prisão. A busca pelo fugitivo envolve uma megaoperação militar e
policial, mobilizando milhares de agentes.
Enfrentando sua primeira crise desde que assumiu o cargo em novembro, o
presidente Noboa declarou o país em conflito armado interno, ordenando que as
Forças Armadas neutralizem 22 grupos criminosos agora considerados
organizações terroristas.
Apesar das medidas adotadas, a violência persiste, com tiroteios, sequestros,
extorsões e motins nas prisões. A preocupação internacional cresce, com vários
países, incluindo Brasil, Colômbia, Chile, Venezuela, Estados Unidos, Espanha,
União Europeia, França e Rússia, rejeitando a violência. O Peru declarou
estado de emergência em sua fronteira com o Equador.
O Equador, outrora relativamente seguro em meio aos grandes produtores de
cocaína, tornou-se um novo epicentro do narcotráfico. Em 2023, o país
registrou mais de 7.800 homicídios e 220 toneladas de droga apreendidas.
Noboa, eleito como o presidente mais jovem da história do país, enfrenta agora
o desafio de conter essa onda de violência e proteger sua população.
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