Na última sexta-feira (5),
Wayne LaPierre
(74), o
‘magnata bélico’ do lobby armamentista nos Estados Unidos, abdicou do cargo de CEO da National Rifle Association (NRA), antecedendo o
início do julgamento em Nova York nesta semana. Este caso milionário de
corrupção, que beneficiou LaPierre e outros magnatas, buscava sua remoção do
cargo e a imposição de sanções econômicas.

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Wayne LaPierre, ex-CEO da NRA.
Créditos: Wikimedia Commons

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, em agosto de 2020, iniciou a
ação para dissolver a NRA, citando uma corrupção de magnitude tão extensa que
a extinção da organização era imperativa para pôr fim aos danos permanentes.

A procuradora alega que LaPierre, juntamente com Wilson Phillips, Joshua
Powell e John Frazer – diretores da associação acusados – instauraram uma
cultura de auto-negociação, má administração e negligência, caracterizando-a
como ilegal, opressiva e fraudulenta.

Um exemplo de má conduta mencionado no processo afirma que LaPierre visitou as
Bahamas em mais de oito ocasiões em jatos particulares, utilizando fundos
destinados à NRA, totalizando um custo de 500 mil dólares. “Seguimos os fatos
e a lei”, disse ela. “Chegamos à conclusão de que a NRA infelizmente estava
servindo como um cofrinho pessoal para quatro réus individuais.”

Às vésperas do julgamento, LaPierre renuncia, sendo sucedido por Andrew
Arulanandam como CEO interino. LaPierre, que estava no comando desde 1991,
alegou problemas de saúde ao anunciar sua decisão durante uma reunião em
Irving, Texas.

“É com orgulho por tudo o que conquistamos que anuncio minha renúncia da NRA.
Fui membro desta organização por boa parte da minha vida adulta, e nunca
deixarei de apoiá-la, assim como sua luta pela defesa da liberdade da Segunda
Emenda da Constituição [que permite a posse de armas]. Minha paixão pela nossa
causa arde profundamente quanto sempre”, declarou LaPierre.

Pérolas de LaPierre

LaPierre, uma figura de extrema direita, é conhecido por suas bravatas e
mentiras. Após o trágico ataque à escola primária Sandy Hook, em 2012,
declarou que “a única coisa que pode parar um cara mau com uma arma é um cara
bom com uma arma”. Além do uso oportunista da tragédia, propagou uma
inverdade.

Após a mesma tragédia, afirmou que restringir o acesso a armas não impediria
futuros episódios. “Não podemos perder tempo com legislações que não vão
funcionar. Precisamos pressionar o Congresso para que ponha seguranças armados
nas escolas já.”

Ao apoiar Trump na eleição de 2016, argumentou que Hillary Clinton não
apoiaria verdadeiramente a causa feminina, pois “as mulheres americanas não
são livres até que tenham armas para se defender”.

Expressou racismo em diversas ocasiões, justificando o afrouxamento das leis
de armas nos EUA, em 2013, devido a “gangues de latino-americanos que estão
tomando conta dos EUA”. Em 2018, culpou os judeus por vários problemas globais
em um discurso.

Na convenção anual da NRA de 2023, LaPierre afirmou que ativistas e políticos
contrários ao armamento “não podem dormir tranquilos em suas casas, enquanto
desarmamentistas fazem suas carreiras livremente”.

NRA

Fundada em 1871 como um grupo recreativo para promover o tiro de espingarda, a
National Rifle Association tornou-se uma das organizações políticas mais
influentes dos EUA.

Atualmente, a NRA faz lobby intensivo contra todo tipo de controle de armas,
argumentando agressivamente que mais armas tornam o país mais seguro.
Baseia-se firmemente em uma interpretação contestada da Segunda Emenda à
Constituição dos EUA, alegando que concede aos cidadãos o direito de portar
armas.

A NRA teve membros proeminentes ao longo dos anos, incluindo o ex-presidente
George Bush pai. No entanto, Bush renunciou em 1995, após LaPierre referir-se
a agentes federais como bandidos de botas após o atentado em Oklahoma City.

Nos últimos anos, a NRA enfrenta uma crise, com uma redução de membros de 6
milhões para pouco mais de 4 milhões em 2019. Sua receita também está em
declínio.

A NRA gasta cerca de 250 milhões de dólares anualmente, superando todos os
grupos de controle de armas juntos, tornando-se um influente grupo de lobby
nos projetos do Partido Republicano, de Donald Trump. Durante os primeiros
anos da administração Trump, a partir de 2017, a NRA se aproximou do clã
Bolsonaro.

A NRA, o clã Bolsonaro e o Proarmas

Durante o plebiscito do desarmamento em 2005, o armamento civil era uma pauta
quase inexistente no Brasil. Na época, a família Bolsonaro buscava comprar
pistolas .40 para as forças de segurança e esterilizar mulheres das favelas do
Rio de Janeiro para combater a violência urbana.

A NRA interveio nesse cenário, auxiliando na campanha contrária à entrega de
armas. A ajuda não foi apenas financeira, mas também retórica, apresentando
uma construção de pensamento alinhada à “bancada da bala”, que busca
desrespeitar direitos humanos e democracia.

Um documentário da Vice News revelou esse processo, destacando a semelhança
discursiva. As cartilhas da NRA frequentemente defendem que mulheres armadas
são suficientes para combater estupros, mesmo quando pesquisas contradizem
essa ideia.

Entre o plebiscito de 2005 e a liberalização das armas por Bolsonaro, as
facções armamentistas no Brasil – voltadas para as forças de segurança e o
armamento civil – confundiram-se nos discursos, retroalimentando-se mirando os
mais pobres. O obscurantismo brasileiro encontrou-se com os discursos pseudo
libertários da extrema direita dos EUA, moldando o atual cenário.

Em 2017, Eduardo Bolsonaro iniciou sua articulação com a NRA nos EUA,
consolidando apoios entre a extrema direita brasileira e norte-americana. A
articulação ocorreu sob a presidência de Donald Trump, resultando na eleição
de Jair Bolsonaro em 2018.

No primeiro mês de seu mandato, Bolsonaro revogou o Estatuto do Desarmamento,
facilitando a obtenção de licenças de CAC. O resultado foi um aumento
significativo no número de armas no país.

Para assegurar a continuidade da pauta, mesmo em um governo desarmamentista
pós-Bolsonaro, foi criado o
Proarmas
em 2020. Na primeira eleição como organização, o Proarmas elegeu 38 políticos,
entre governadores e parlamentares, no primeiro turno das últimas eleições.

Sobre o Autor

Manfrine Melo
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